"Deux arbres" - http://www.transientlight.co.uk/photo/deux-arbres/
Quantos homens e mulheres em idade avançada já construíram uma família, já criaram seus filhos, já se aposentaram e vivem sós.
Fico pensando nas dificuldades que encontram para a realização das coisas práticas e necessárias - a alimentação, o almoço, o jantar, os cuidados com a roupa, o controle financeiro. Imagino que cada amanhecer tenha se tornado uma árdua tarefa consistente na procura de alguma maneira de preencher o tempo de um dia: fazer palavras cruzadas, ler um livro, rememorar coisas que se passaram, remexer em papeis, em gavetas; procurar algum amigo, encontrar algum assunto para conversar, dar um telefonema. Mas, a quem recorrer? Quem estaria disposto a ouvir? Quem estaria disposto a conversar?
Atravessar o dia, sob a luz do sol, parece não ser tão difícil. O movimento nas ruas, os veículos trafegando, tudo isso distrai e ocupa a imaginação. Mas, e a noite? A hora de ir para a cama, o silêncio, a escuridão? Qual a dimensão da angústia para se poder vencer as madrugadas, as insônias, os pensamentos nas coisas que vão ficando? Como adormecer com o incômodo pensamento naquilo que poderia ter sido feito da própria vida, mas não foi? Na quietude do quarto, estender o braço e ter o outro lado vazio, ninguém com quem conversar; deparar-se com sombras e com todo o vazio que a alma pode suportar. Estar só.
Outro dia assisti um filme que aborda esse assunto. Baseado no livro "Nossas Noites"*, do escritor indiano Kent Haruf, o filme conta a história de Addie e Louis, ambos com idade acima de 70 anos. Addie e Louis já foram casados, tiveram suas famílias e seus filhos. Vivem sós. São vizinhos há muitos anos, e se conhecem apenas pelos cumprimentos formais e distantes. No filme Addie, na angústia de suas noites, supondo que Louis sentisse, como ela, a mesma falta de alguém com quem conversar, um dia vai à casa dele e sugere que eles, de vez em quando, poderiam dormir juntos em sua casa para poderem conversar; que, conversando, poderiam vencer a noite, afastar a escuridão e o silêncio.
Não - ela esclarece - Ela não estava sugerindo ou propondo sexo; ela procurava e oferecia companhia. Ela queria alguém com quem pudesse dialogar, alguém para quem pudesse contar histórias, e de quem pudesse ouvir histórias.