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quinta-feira, 15 de abril de 2021

HOTEL BRASIL


       Ei-lo ali, na região do Cone Sul, a Oeste da Avenida Atlântica.

Hotel Brasil - Ribeirão Preto, SP
Foto: arq. pessoal (abr/2019)


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João Gilberto - "Canta Brasil" - (Alcyr Pires/David Nasser)
https://www.youtube.com/watch?v=Ho0PJNjcbCc

     Integrante da rede de hotéis Mercosul, e com apenas uma administração central, o Hotel Brasil dispõe de 26 quartos, em 5.570 metros quadrados, para receber hóspedes. Dizem que, dele, o que se tem é uma visão do paraíso. Mas eu continuo acreditando que ele nasceu sendo, e pode voltar a ser, o próprio paraíso. De suas janelas são vistas, ainda, enormes palmeiras imperiais, nas quais sabiás fazem seus ninhos. Em outros tempos, representava a certeza de um futuro promissor. Nele já se instalaram hóspedes conhecidos, com perfis bastante diferentes: Dom Pedro II, Artur Bernardes, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, General Médici, Fernando Collor, FHC, Lula, além de muitos outros Pedros, Marias e Joões. Com o passar dos anos, ele foi perdendo sua imponência e suas riquezas.

     Muitos dos que por ele passaram, conseguiram arruinar suas instalações: de início levavam pequenos cinzeiros, copos com sua logomarca, aparadores; depois passaram a retirar de seus quartos torneiras, fechaduras, artigos de metal... Na sequência, levaram até peças do seu mobiliário. Há pouco começaram a falar dele por intermédio de discursos carregados de ódio, como que buscando fabricar consciências enlatadas desprovidas de qualquer juízo crítico. Ultimamente, além do oxigênio que dentro dele circula, andam levando a lembrança dos ideais que desenharam suas fronteiras e coloriram seus espaços internos...

     Passo os olhos por ele e pelos vãos de suas janelas entreabertas. Ele continua habitado. Mas, ao invés de obreiros verdadeiramente comprometidas com sua reconstrução, observo ali dentro fantasmas de estranha natureza: gerentes indecorosos, pregadores fanáticos, celebridades intolerantes e falsos moralistas travestidos de profetas.


Hotel Brasil - detalhe
Foto: arq. pessoal


     O Hotel Brasil continua de pé, em tijolos sem reboque, sem cor, sem oxigênio respirável, sofrendo as mesmas agruras de que foram vítimas alguns de seus hóspedes idealistas que dele foram expulsos.

     Mas nem tudo é eterno. O imponente Hotel Brasil ainda há de recuperar suas forças para poder cumprir os seus desígnios. Ele ainda há de se reerguer e fazer com que os hóspedes indiferentes às sinalizações da história, que trafegam pela esquerda ou pela direita, envergonhados, se afastem espontaneamente de suas instalações. Por si só, e pela sua grandeza histórica, ele ainda há de promover a abertura de olhos dos carentes de juízo crítico, dos fantasmas intelectualmente miseráveis, dos usurpadores de reboque, de liberdades, de tijolos, de matas, de fiação, de azulejos, de telhas, de mentes, e - especialmente - dos destruidores dos seus encantos...

     Brasil, ainda assim, como posso não dourar os seus brasões?

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