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sexta-feira, 25 de março de 2022

25 DE MARÇO: A IMPORTÂNCIA DA DATA

 

A primeira Constituição brasileira
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf

    Vinte e cinco de março é, no Brasil, o Dia da Constituição. A escolha (do dia) deu-se pelo fato de que, em 1824, nesse mesmo dia e mês, nossa primeira Constituição foi outorgada. Esta Constituição (a Imperial) estabeleceu no Brasil o sistema monárquico, com a divisão dos poderes nos três tradicionais (desenvolvidos pelo iluminista Montesquieu). Estes três Poderes configuravam o Estado Democrático de Direito. Contudo, esta Constituição estabeleceu também um quarto Poder: o Moderador. Esse quarto Poder era exercido pelo Imperador, o qual poderia intervir nos outros três - portanto, assegurando sua preponderância sobre os demais. Esta Constituição vigorou durante todo o regime monárquico - por 65 anos, portanto - até a proclamação da República, em 1889.

Estabelecimento comercial de imigrantes sírio-libaneses, com seus filhos
Guará, SP - Foto: acervo familiar

    Mas vinte e cinco de março, no Brasil, por força da Lei 11.764 de 25/8/2008, também é comemorado o Dia Nacional da Comunidade Árabe. Isso porque, inicialmente, quando os árabes aqui chegavam pelo porto de Santos, estabeleciam-se comercialmente em São Paulo, na Rua 25 de março.

Imigrantes árabes na Rua 25 de março - SP
https://www.hotelcastelar.com.br/as-origens-da-rua-25-de-marco/

    Assim, pela concentração da comunidade árabe nessa rua, especificamente, deu-se a escolha da data. Os árabes (sírios, libaneses - em geral alguns dos povos oriundos do antigo império Otomano) que, inicialmente, e em sua grande maioria, dedicavam-se ao comércio, hoje têm presença marcante na indústria, na literatura, na ciência e nas artes, contribuindo expressivamente com o desenvolvimento do Brasil e, notadamente, com a construção da nossa própria identidade.

terça-feira, 22 de março de 2022

TORTURA DE AMOR


Eurípedes Waldick Soriano (1933-2008)
https://www.bregablog.com/2014/06/waldick-soriano-discografia-completa.html


"Il y aura un bal, très pauvre et très banal,
Sous un ciel plein de brume et de mélancolie"
("Un jour tu verras" - Mouloudji/vanParys)

    Gosto de ouvir as gravações musicais do Waldick Soriano. Não, não foi o gênero musical adotado por ele que me cativou: foi a figura do artista - o Waldick, o "Frank Sinatra do Nordeste", o boêmio que levava consigo, em sofisticação ensaiada, toda a nossa indisfarçável carga de fragilidade.

    Dos seus registros em vídeo, não me canso de rever o que foi feito em 2006, no Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, em Fortaleza. Verdadeiro, simples, humano: um baile popular fantasiado de requinte. Naquela comunhão popular eu gostaria de ter estado... com a cabeça transbordando de fantasias e de benevolências bêbedas; com a alma alegre e esperançosa... numa festa simples, pobre e vulgar, como pobres e vulgares somos todos nós...

    Puxe uma cadeira, meu amigo; sente-se à mesa, encha o copo de amor e de banalidades. E ao ouvir o Waldick, comungue comigo das suas mais reservadas futilidades, e dos seus mais nobres anseios...

Waldick Soriano, dele: "Tortura de Amor" 
https://www.youtube.com/watch?v=7-kHtzijxtw

sábado, 19 de março de 2022

SINHÁ


"Pelourinho" - (Debret)
https://www.conjur.com.br/2014-mar-13/oab-sp-quadro-escravo-seja-retirado-forum-criminal


    A Senzala e a Casa Grande, no Brasil, estavam muito próximas. Consequentemente, o convívio entre escravo e senhor era inevitável - a ponto do senhor, ocasionalmente, procurar na escrava o remédio para seus impulsos e suas carências.

    Mas o senhor, eventualmente, passava longos períodos distante da Casa Grande. E nessas idas e vindas, nesses períodos de ausência, a Sinhá, que também tinha suas carências, ficava sujeita a se engraçar por algum morador da senzala.

    E foi também nessa combinação de possibilidades que deu-se a miscigenação aqui no Brasil.
 
    Convém, contudo, meus caros leitores, que não nos esqueçamos: se algum escravo transgredisse os limites a ele impostos, ele poderia ser levado ao tronco para ser açoitado - as vezes até mutilado ou castrado.

    Pois o Chico Buarque e o João Bosco, em "Sinhá", nos contam uma história assim: Sinhá estava fora, a banhar-se no açude, justamente quando - assim foi dito - pegaram um escravo na roça. Na versão dele - do escravo -, ele só olhava o arvoredo em busca de sabiás; na versão do senhor, o escravo havia visto Sinhá (banhar-se). O escravo diz que, se ela se despiu e banhou-se, ele não viu nada, pois nem estava mais na roça em busca de sabiás. E mais: ele afirma que, além de já não mais sentir cobiça, nem enxergava bem.

    Assim, segundo o escravo, não havia motivo algum para o senhor querer furar seus olhos, aleijando-o em punição.

    Mas o fato foi que, ao que parecia, Sinhá havia se engraçado pelo escravo...

    E aí?
 
    Aí que essa é somente uma história... Se olharmos para a multidão de escravos sequestrados para o Brasil, em mais de 300 anos, vamos ver que a crueldade por aqui rolou solta: exploração, estupros, torturas, mutilações, açoite, sal em feridas, correntes, marcas de identificação, separação de família, garrote... e o diabo a quatro. 

    Vamos então ouvir o Chico Buarque e o João Bosco. Eles nos trazem a história contada por um cantor atormentado, "herdeiro sarará e filho de um relacionamento espúrio" de um escravo mandingueiro, por quem uma certa Sinhá ficara enfeitiçada...


Chico Buarque e João Bosco - "Sinhá"


SINHÁ
(Chico Buarque e João Bosco)

Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá

Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem enxergo bem

Pra quê me pôr no tronco
Pra quê me aleijar
Eu juro a vosmecê
Que nunca vi Sinhá

Por que me faz tão mal
Com olhos tão azuis
Me benzo com o sinal
Da Santa Cruz

Eu só cheguei no açude
Atrás do sabiá
Olhava o arvoredo
Eu não olhei Sinhá

Se a dona se despiu
Eu já andava além
Estava na moenda
Estava pra Xerém

Por que talhar meu corpo
Eu não olhei Sinhá
Pra que que vosmicê
Meus olhos vai furar

Eu choro em iorubá
Mas oro por Jesus
Pra que que vossuncê
Me tira a luz

E assim vai se encerrar
O conto de um cantor
Com voz do pelourinho
E ares de senhor

Cantor atormentado
Herdeiro sarará
Do nome e do renome
De um feroz senhor de engenho
E das mandingas de um escravo
Que no engenho enfeitiçou Sinhá

_______________________
- açude: construção de terra para represar água
- arvoredo: extenso aglomerado de árvores
- Xerém: papa de milho com carne e molho; Distrito do Município de Duque de Caxias, RJ
- iorubá: lingua nigero-congolesa
- Sarará: mulato
- Mandingas: feitiço


quarta-feira, 16 de março de 2022

A NAÇÃO, EM PRATOS REGIONAIS

 

https://novamanha.novabrasilfm.com.br/2022/03/06/mapa-destaca-pratos-caracteristicos-de-cada-estado-brasileiro/

O Brasil comporta culturas e tipos diversos, que podem ser visualizados nos seus pratos característicos regionais. Quanta riqueza!! É, de fato, um maravilhoso painel de diversidades que propõe (há séculos) a celebração da inclusão, apesar de desvios circunstanciais que nos apequenam.

João Bosco - "Nação" (Aldir Blanc, João Bosco, Paulo Emílio)
https://www.youtube.com/watch?v=2uWgW5t48kM

Nação

Dorival Caymmi falou para Oxum
Com Silas tô em boa compania
O Céu abraça a Terra,
Deságua o rio na Bahia
Dorival Caymmi falou para Oxum
Com Silas tô em boa compania
O Céu abraça a Terra,
Deságua o rio na Bahia
Jêje
Minha sede é dos rios
A minha cor é o arco-íris
Minha fome é tanta
Planta flor, irmã da bandeira
A minha sina é verde-amarela
Feito a bananeira
Ouro cobre o espelho esmeralda
No berço-esplêndido
A floresta em calda
Manjedoura d'alma
Labarágua, sete quedas em chama
Cobra de ferro, Oxum-Maré
Homem e mulher na cama
Jêje
Tuas asas de pomba
Presas nas costas
Com mel e dendê
Aguentam por um fio
Sofrem
O bafio da fera
O bombardeiro de Caramuru
A sanha d'Anhanguera
Jêje
Tua boca do lixo
Escarra o sangue
De outra hemoptise
No canal do mangue
O uirapuru das cinzas chama
Rebenta a louça, Oxum-Maré
Dança em teu mar de lama
Dorival Caymmi falou para Oxum
Com Silas tô em boa companhia
O Céu abraça a Terra,
Deságua o rio na Bahia
Dorival Caymmi falou para Oxum
Com Silas tô em boa companhia
O Céu abraça a Terra,
Deságua o rio na Bahia


domingo, 13 de março de 2022

ARANJUEZ MON AMOUR


CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ
(VIDEO: Clique para ouvir o Richard Anthony)

     É realmente incrível o quanto a música mexe com a gente. Com ela sonhamos, viajamos, criamos e nos nutrimos de esperanças. Com a imaginação estimulada por uma música podemos tudo, fazemos tudo. E é bom que seja mesmo assim. Afinal, sem as fantasias a vida fica muito chata. Pois vejam só... 

     Eu era ainda muito jovem quando ouvi "Aranjuez mon amour" pela primeira vez. Tínhamos lá em casa um compacto simples; o cantor era Richard Anthony, em gravação de 1967. 


 (FOTO: "Tínhamos lá em casa um compacto simples" - fonte: http://bimg2.mlstatic.com/richard-anthony-aranjuez-mon-amour-vinil-compacto_MLB-F-193948441_3957.jpg)

     Como a letra, escrita por Guy Bontempelli*, era em francês e eu não tinha condição de entendê-la, debruçava-me em frente à vitrola e, olhando o disco girar, as imagens se sucediam a cada vez que ouvia a música. Ao longo dos anos, a imagem que a música me inspirou foi a de uma viagem aérea... uma viagem a lugares distantes, sobrevoando países, observando de cima seus edifícios, ouvindo seus sons e sentindo o pulsar de vida existente no povo de cada lugar por onde essa viagem acontecesse... uma viagem longa e compassada... 

     Estranho, pois tal imagem nada tem a ver com a letra da música, que fala de amor, de rosas e do tempo, muito embora tenha sido inspirada (a letra) em um triste episódio das Guerras Napoleônicas (1806-1808). Mas, talvez essa imagem me tenha vindo pelo andamento da música, lembrando um movimento lento e contínuo... a sequência do acorde inicial do violão, a melodia suave do instrumento de sopro que entra em seguida... 

     Só depois de ter ouvido o Richard Anthony é que fui descobrir, anos mais tarde, que "Aranjuez mon amour" havia nascido do segundo movimento do "Concierto de Aranjuez", composto pelo espanhol Joaquin Rodrigo em 1939.  



(FOTO: "Joaquin Rodrigo" - 1901-1999 - fonte: http://music.minnesota.publicradio.org/features/9907_rodrigo/images/rodrigo_older_lg.jpg)

     Dentre as músicas de que gosto, talvez essa esteja entre as cinco primeiras. Carreguei por muitos e muitos anos esse nome, "Aranjuez", sem saber o seu significado.

     Mas como as coisas sempre acontecem quando a gente menos espera, foi em uma reunião, há uns dez anos, por aí, que descobri o que é "Aranjuez". Eu estava em uma roda de amigos. Uma das amigas de minha esposa aproximou-se e apresentou-nos seu companheiro, natural da Espanha. Conversamos com ele sobre viagens, países e costumes. E ao falarmos sobre a Espanha, contou-nos que era natural de uma cidadezinha ao sul de Madri, chamada "Aranjuez".

     - "Aranjuez ? É uma cidade ? Caraca, não sabia disso!" - exclamei em voz alta.

(FOTO: Fonte de Vênus, Jardin de la Isla en Aranjuez - fonte: http://cecibustos.wordpress.com/2009/08/19/guillermo-carnero-capricho-en-aranjuez/)

     Todos ao meu redor se espantaram ao ver minha reação ao ouvir e repetir várias vezes o nome daquela cidade...

     - "Aranjuez... Aranjuez... 'Aranjuez, mon amour'"!, completei.

     Minha esposa e as demais pessoas que estevam naquele grupo não entenderam nada...

     - "Isso mesmo!", disse o companheiro da amiga, "foi por tudo que a cidade inspirou no Joaquin Rodrigo que ele compôs o 'Concierto de Aranjuez'".

     A partir daí, esclarecidos os comentários, a conversa no grupo passou a ter como tema o Joaquin Rodrigo, o Concierto de Aranjuez, e, inevitavelmente, a cidade de Aranjuez.

     Foi nessa noite, então, que descobri, que Aranjuez é uma cidade Medieval, com bosques e antigos palácios rodeados por jardins e fontes.

     Mesmo com tal descoberta, a viagem que sempre imagino, ao ouvir o "concierto", em nada foi alterada. Pelo contrário. Agora, ao ouvir o segundo movimento do "concierto", vejo também cavaleiros medievais, castelos, reis e rainhas sendo formados ao som do seu primeiro movimento.

     E, aliando a minha viagem, no segundo movimento, com os cavaleiros medievais do primeiro (movimento), o terceiro (movimento) acrescenta a imagem desses mesmos cavaleiros, em campos floridos, empunhando as bandeiras de seus reinos, em incansáveis passeios no entorno de seus castelos.

(FOTO: Palácio Real - Aranjuez - fonte: http://thelife-roadtrip.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html)

     O "Concierto" celebrizou o seu autor. Joaquin Rodrigo perdeu a visão ainda criança (aos quatro anos de idade), e faleceu em 1999 com 98 anos. Sua percepção da cidade de Aranjuez ficou traduzida nos sons e perfumes que sentia quando lá estava - e que lhe inspiraram o belíssimo "Concierto": o "Concierto de Aranjuez".

ARANJUEZ, MON AMOUR

 

Mon amour, sur l'eau des fontaines, mon amour

Ou le vent les amènent, mon amour

Le soir tombé, on voit flotter

Des pétales de roses

 

Mon amour et des murs se gercent mon amour

Au soleil au vent à l'averse et aux années qui vont passant

Depuis le matin de mai qu'ils sont venus

Et qu'en chantant, soudain ils ont écrit sur les murs du bout de leur fusil

De bien étranges choses

 

Mon amour, le rosier suit les traces, mon amour

Sur le mur et enlace, mon amour

Leurs noms gravés et chaque été

D'un beau rouge sont les roses

 

Mon amour, sèche les fontaines, mon amour

Au soleil au vent de la plaine et aux années qui vont passant

Depuis le matin de mai qu'il sont venus

La fleur au cœur, les pieds nus, le pas lent

Et les yeux éclairés d'un étrange sourire

 

Et sur ce mur lorsque le soir descend

On croirait voir des taches de sang

Ce ne sont que des roses !

Aranjuez, mon amour

ARANJUEZ, MEU AMOR

 

Meu amor, sobre a água das fontes, meu amor

Onde o vento as levam, meu amor

Ao cair da noite, vemos flutuar

Pétalas de rosas

 

Meu amor e paredes se desmancham meu amor

Ao sol, ao vento, à chuva, e aos anos que vão passando

Desde a manhã de maio que eles vieram

E quando cantando, de repente escreveram nas paredes com a ponta do seu fuzil

Coisas bem estranhas

 

Meu amor, a roseira segue os seus sinais, meu amor

Na parede e abraça, meu amor

Seus nomes gravados e a cada verão

De um lindo vermelho são as rosas

 

Meu amor, seque as fontes, meu amor

Ao sol, ao vento da planície, e aos anos que vão passando

Desde a manhã de maio que eles vieram

A flor no coração, pés descalços, o passo lento

E os olhos iluminados por um estranho sorriso

 

E nesta parede, quando a noite cai

Acreditaríamos ver manchas de sangue

São apenas rosas

Aranjuez, meu amor


*Guy Bontempelli (compositor e intérprete francês - 1940-2014) escreveu a letra de "Aranjuez mon amour" inspirado em um episódio da Guerra Napoleônica de 1806-1808
pintado por Francisco Goya (espanhol): "O Três de maio de 1808" (fuzilamentos em Madrid)  

terça-feira, 8 de março de 2022

A MULHER EM TRÊS CECÍLIAS

 

("Retrato de Jeanne Hébuterne com chapéu grande" - Modigliani, 1917 - fonte:  http://amedeo-modigliani.paintings.name/hebuterne-straw-hat.php)

     A beleza feminina pode nos levar a sensações diferentes. Sensações e idealizações. Penso nisso ao relacionar três Cecílias conhecidas, da música e da literatura.

     A beleza dócil, que traz pureza e dependência à imaginação, está na Cecília do José de Alencar: a Cecy, do Pery. De tão meiga e pura foi objeto de cobiça masculina e desencadeou sequestros e envenenamentos. A cobiça, porém, não junta forças para unir. E foi o Pery, protetor da Cecy, quem amparou sua fragilidade, conduzindo-a mata adentro, pela vida adentro - como que a conduzir o europeu, simbolicamente, para dar início a um convívio pacífico entre índios e europeus. (Carlos Gomes, em música, traduziu muito bem essa jornada na segunda parte da abertura de "O Guarani")

     A uma Cecília assim, do século XVII, que guarda a impossibilidade de ser dona da vontade própria, que precisa de alguém para lhe indicar o caminho, contrapõe-se uma outra Cecília, fugaz, inconsequente, livre e instável, que coloca o homem inquieto diante dos seus impulsos; que, em seguida e após um desacerto, volta atrás e ama-o novamente - conforme a “Cecilia” descrita por Paul Simon em uma de suas composições musicais.

Cecilia
(Paul Simon)

Cecilia, you're breaking my heart
you're shaking my confidence daily
Oh Cecilia, I'm down on my knees
I'm begging you please
to come home - come on home

Making love in the afternoon
with Cecilia, up in my bedroom
I got up to wash my face
when I come back to bed
someone's taken my place

Jubilation, she loves me again
I fall on the floor
and I'm laughing

 

Cecília

Cecília, você está partindo meu coração
você está sacudindo minha confiança, diariamente
Oh Cecília, estou de joelhos
estou implorando por favor,
volte pra casa

Fazendo amor à tarde
com Cecília, lá no meu quarto
Eu me levanto 
pra lavar o meu rosto
quando volto pra cama
alguém havia tomado meu lugar

Que grande alegria,
ela me ama novamente
eu caio no chão
e me deito rindo



     Além das duas Cecílias, a frágil/dependente e a instável/impulsiva, há uma outra que me parece um grande mistério, que inspira monólogos silenciosos; uma Cecília inatingível, que pode reagir de forma inesperada porque é desconhecida, sendo ou não forte ou frágil, que é observada, somente observada, para que o diálogo não a traga à realidade, como a “Cecília” do Chico Buarque e do Luiz Cláudio Ramos. A essa Cecília nada pode ser dito, pois ela precisa ser inacessível para que seu encanto não seja desfeito.

(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Video: "Cecilia" - Chico Buarque e Luiz Cláudio Ramos)
https://www.youtube.com/watch?v=1eGWCgDCAkk

Cecília (Luiz C. Ramos/Chico Buarque)

Quantos artistas entoam baladas
pra suas amadas
Com grandes orquestras
Como os invejo, como os admiro
Eu que te vejo e nem quase respiro

Quantos poetas românticos, prosas
Exaltam suas musas
Com todas as letras
Eu te murmuro, eu te suspiro
Eu, que soletro teu nome no escuro

Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
meus lábios, de leve
Tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias merecem, Cecília,
teu nome espalhar por aí
Como tantos poetas, tantos cantores
Tantas Cecílias com mil refletores
Eu, que não digo, mas ardo de desejo
Te olho te guardo te sigo te vejo dormir


     E então, das três, qual retrata a mulher ideal?

     Pra mim, nenhuma, isoladamente. Prefiro que em cada mulher resida um pouco de cada uma das três Cecílias - e de tantas outras Cecílias. Que, nessa Cecília idealizada, resida a mulher frágil, a independente, a misteriosa... E que as três Cecílias (e tantas outras mais) coexistam e se despertem, em cada momento apropriado, em uma Cecília só... Mas essa ainda não foi nem escrita e nem cantada...


RP, 29mar2011