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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

UM ABRAÇO EM PELÉ

 

Fonte: https://diariohoy.net/interes-general/la-relacion-de-vinicius-de-moraes-y-pele-175116


Edson Arantes do Nascimento - Pelé
(23/10/1940 - 29/12/2022)


    O nosso querido poeta Vinícius de Moraes ocupou diversos postos na carreira diplomática brasileira. No exterior, ocupou postos em Los Angeles, Paris e Montevideo. No ano de 1966, como representante do governo brasileiro, recebeu do governo francês a condecoração do grau de "Oficial". Acontece que, no mesmo dia, e na mesma cerimônia, foi também condecorado, como "Cavaleiro", um outro brasileiro: Pelé.

    Em crônica publicada no jornal Última Hora, no mesmo ano de 1966, e posteriormente em sua coletânea de crônicas "Para uma menina com uma flor", Vinícius expressou o orgulho e a admiração que sentia pelo nosso craque de futebol.

    Condecorado como representante de governo, Vinícius orgulhava-se muito de Pelé; pois diferente dele, Pelé estava sendo distinguido pela Ordem Nacional de Mérito da França não como representante de governo, mas como "representante de si mesmo".

    A seguir, a crônica "Um abraço em Pelé" - do nosso querido Vinícius de Moraes. (disponível em https://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/prosa/um-abraco-em-pele) 

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UM ABRAÇO EM PELÉ

Eu ainda não tive o prazer de lhe ser apresentado, meu caro Pelé, mas agora, com o fato de termos sido condecorados juntos pelo governo de França - você no grau de Cavaleiro e eu no de Oficial: e mais justo me pareceria o contrário - vamos certamente nos conhecer e tornar amigos. Ninguém mais que você merece tão alta distinção, sobretudo por ter sido conferida espontaneamente - pois ninguém mais que você tem levado o nome do Brasil para fora de nossas fronteiras. Da Sibéria à Patagônia todo mundo conhece Pelé; e eu estou certo de que você entraria fácil na lista das dez personalidades mais famosas de nossos dias. 

Não posso disfarçar o orgulho que a condecoração me causa, embora seja, de natureza, avesso a honrarias; e orgulho tanto maior porque nela estamos juntos: preto e branco (as cores do meu Botafogo!) e também as cores irmãs de nossa integração racial. Sim, caro Pelé, nós representamos, em face da comenda que nos é conferida, o Brasil racialmente integrado, o Brasil sem ódio e sem complexos, o Brasil que olha para o futuro sem medo porque, apesar dos pesares, é bom de mulher, bom de música, bom de poesia, bom de pintura, bom de arquitetura e bom de bola. Particularmente por isso considero-me feliz de estar a seu lado no momento em que nos colocarem no peito a condecoração. 

Que você tenha sido distinguido pela Ordem Nacional do Mérito da França nada me parece mais natural. A França sempre deu um alto valor ao gênio, e você, meu grande Pelé, é um gênio completo, porque o seu futebol representa um reflexo imediato de sua cabeça nos seus pés. Eu não sou gênio, não. Eu tenho que pensar um bocado para que a mão transmita direito o que a cabeça lucubrou. Meus gols são mais raros que os seus. Você é com justa razão chamado o Rei. Quanto a mim, que rei sou eu? 

Mas nada disso turva a satisfação que sinto em ser o seu Coutinho nesta nova investida do Brasil na área internacional. Parabéns, meu caro Pelé. Parabéns e o melhor abraço aqui do seu irmãozinho!

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