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sexta-feira, 21 de abril de 2023

BRASÍLIA - SINFONIA DA ALVORADA

 


("Brasília - vista da Torre de Televisão" - ao fundo, a esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional - foto: arq. pessoal)


     "Brasília - Sinfonia da Alvorada" é um poema sinfônico de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Foi composto a pedido do Juscelino Kubitschek, que o queria para a inauguração de Brasília. Mas houve protestos contra a construção da cidade e, por questões de custos relativos a tecnologia para sua apresentação, a cidade foi inaugurada sem a Sinfonia. Gravada em 1960, somente em 1966 ocorreu sua primeira audição.
     Ao retornar de uma viagem à Brasília, e inspirado pelas imagens da cidade que me haviam ficado, fui procurar o poema da "Sinfonia".
     Imaginei que pudesse encontrá-lo em um livro que tenho em casa, e que reúne a obra poética do Vinícius de Moraes em prosa e em verso (1). Não o encontrei. Recorri à internet e lá estava: a "Sinfonia da Alvorada"(2).
     Eu sabia da existência dessa sinfonia e da história que envolvia sua composição pelo Tom e pelo Vinícius. Mas eu nunca havia lido o poema, nem tampouco ouvido a música.
     Fui encontrá-la no youtube. Coloquei para ouvir. Fiquei encantado!
     Ela é dividido em cinco partes (3):

I - O planalto deserto;
II - O homem;
III - A chegada dos candangos;
IV - O trabalho e a construção;
V - Coral

     Na primeira parte ("O Planalto Deserto") o Vinícius descreve o lugar com suas coisas "anteriores ao homem": os campos, as cores, as aves, as auroras...

"No princípio era o ermo
Eram antigas solidões em mágoa.
O altiplano, o infinito descampado (...)" 

     Depois, na segunda parte ("O Homem"), a chegada do homem. O Homem ali chegou para desbravar, para fundar, para erguer e para ficar... O homem trazia, "a antiga determinação dos bandeirantes". "No entanto", explica o autor, "não eram o ouro e os diamantes o objeto de sua cobiça."
     E assim o Vinícius escreveu a respeito do homem que ali chegou para ficar:

"Seus pés plantaram-se na terra vermelha do altiplano. Seu olhar descortinou as grandes extensões sem mágoa no círculo infinito do horizonte. Seu peito encheu-se do ar puro do cerrado. Sim, ele plantaria no deserto uma cidade muito branca e muito pura..." 

     Na terceira parte ("A Chegada dos Candangos"), o Vinícius fala da convocação e da chegada de todos os homens que tinham vontade de trabalhar, e da confiança no futuro. 

"E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra (...) muitas vezes deixando para trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores dias (...)".

     Para essa construção "foi necessário muito mais que engenho, tenacidade e invenção", diz o Vinícius. Ele utiliza das imagens duras das palavras concreto, ferro, cimento, areia e fios para compor a 4ª parte - "O Trabalho e a Construção". Fala, além dos materiais, do tipo de trabalho a ser realizado: 

"desbastar, cavar, estaquear, cortar, serrar, pregar, serrar (...)".

     E descreve ainda o final de cada dia, o crepúsculo, o retorno do trabalhador, 

"as mãos vazias de trabalho e os olhos cheios de horizontes (...)".

     No fim, a cidade pronta, o coro masculino (5ª parte: "Coral"), os homens, os trabalhadores, celebram exultantes a obra concluída: 

"Brasília, Brasília... Brasil, Brasil"... 

     E o poeta, com todo seu lirismo, assim descreve a cidade que havia nascido:

"Terra de sol
Terra de luz
Terra que guarda no céu
A brilhar o sinal de uma cruz
Terra de luz
Terra-esperança, promessa
De um mundo de paz e de amor
Terra de irmãos
Ó alma brasileira...
... Alma brasileira...
Terra-poesia de canções e de perdão
Terra que um dia encontrou seu coração

Brasil! Brasil!
Brasília! 

     Hoje, pensando nessa composição eu me pergunto: "Como passei tantos anos sem conhecê-la?" Mas tudo tem seu tempo. O sentido e o valor das coisas aparecem conforme a vida vai nos proporcionando situações novas. Pois foi preciso eu ficar tomado de amores pela construção de Brasília para poder buscar e compreender o significado da sinfonia... da sua "Sinfonia"...   



(CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR E OUVIR)
("Sinfonia da Alvorada" - trechos na voz de Vinícius de Moraes
https://www.youtube.com/watch?v=IQ02nAV79ZM)  
30/03/2013
___________________________________ 
(1) "Poesia Completa e Prosa". Editora Nova Aguilar - 2ª edição de 1976, reimpressa em 1985)
(2) Para ler o poema inteiro, https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/87259/
(3) Para ouvir o poema sinfônico, declamado pelo Vinícius, segue o link do youtube
   I - O Planalto Deserto - https://www.youtube.com/watch?v=MhYYwocpDgw 
   II - O Homem - https://www.youtube.com/watch?v=t2ZsjFDl_ug
   III - A Chegada dos Candangos - https://www.youtube.com/watch?v=9QXdOiYowzM
   IV - O Trabalho e a Construção - https://www.youtube.com/watch?v=OyJVmv5sRg4
   V - Coral - https://www.youtube.com/watch?v=T33IBIK-B9M


quarta-feira, 5 de abril de 2023

USP FILARMÔNICA, TEATRO PEDRO II, 04 DE ABRIL DE 2023

 

Orquestra USP Filarmônica
https://jornal.usp.br/cultura/usp-filarmonica-se-apresenta-em-ribeirao-preto-e-sao-carlos/

Em comemoração aos quinze anos da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto - USP, a USP Filarmônica apresentou-se ontem no Teatro Pedro II. Sob regência e direção artística do Prof. Dr. Rubens Russomanno Ricciardi, no programa sinfônico estavam obras de alguns compositores e poetas pretos e pardos brasileiros dos séculos XVIII e XIX.

Dentre estes compositores e poetas, foram lembrados: Manuel Dias de Oliveira (1734/35-1813), José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), o padre mestre Domingos Caldas Barbosa, ou Loreno Seltinuntino (1740-1800), José Maria Xavier (1819-1887), Anacleto Augusto de Medeiros (1866-1907) e Alfredo da Rocha Vianna Filho - o Pixinguinha - (1897-1973). Além dos poetas e compositores, também foram resgatadas e apresentadas modinhas e canções populares, fruto de pesquisa com levantamento folclórico e arranjos de Heitor Villa-Lobos, com orquestração de Olivier Toni (1926-2017) e Rubens Russomanno Ricciardi.

Anacleto Augusto de Medeiros
https://cultura.uol.com.br/radio/programas/estudio-f/2021/08/25/8_anacleto-de-medeiros.html

Que belo resgate! Quero parabenizar e agradecer à USP Filarmônica pela apresentação encantadora, e em especial aos solistas: Yuka de Almeida Prado (soprano), Anita Prado (mezzo-soprano), Rafael Stein (tenor), Alexandre Mazzer (barítono), Carla Rincón (spalla convidada), João Paulo Henrique da Silva (clarineta), Samuel Pompeu (saxofone), Gustavo Silveira Costa (violão) e Matheus Luis de Andrade (percussão). 

Apresentações musicais tais como a da noite de ontem, que tive o privilégio de assistir (e com entrada franca, em um teatro monumental!), são um convite e uma inspiração para imersões poéticas nas riquezas adormecidas em nosso país - que florescem aqui em Ribeirão Preto.

Teca Calazans - "Rasga Coração"
(compositor: Anacleto de Medeiros; versos: Catulo da Paixão Cearense)
https://www.youtube.com/watch?v=Akvx3gvqRZo

Rasga Coração (Iara)

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar!
Rasga o coração, vem te debruçar
Sobre a vastidão do meu penar!

Rasga-o, que hás de ver
Lá dentro a dor a soluçar!
Sob o peso de uma cruz
De lágrimas, a chorar!
Anjos a cantar preces divinais
Deus a ritmar meus pobres ais!

Sorve todo o olor que anda a recender
Pelas espinhosas florações do meu sofrer!
Vê se podes ler nas suas pulsações
As brancas ilusões a o
Que ele diz no seu gemer!

E que não pode assim dizer!
Nas palpitações, ouve-o brandamente
Docemente, palpitar, casto e purpural!
Num treno vesperal mais puro que
Uma cândida vestal!

Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar!
Rasga o coração, vem te debruçar
Sobre a vastidão do meu penar!

Anjo do perdão!
Flor vem me abrir com a tua mão
Cheia de neve na primavera desta dor
Ao reflorir, mago sorrir!
Nos rubros lábios teus
Verá meu coração sorrindo a Deus!

Rasga-o, que hás de ver
Lá dentro a dor a soluçar!
Sob o peso de uma cruz
De lágrimas, a chorar!
Anjos a cantar preces divinais
Deus a ritmar meus pobres ais!


segunda-feira, 3 de abril de 2023

RESISTINDO

 

https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-2192133092-lp-quarteto-em-cy-resistindo-ao-vivo-1977-_JM#&gid=1&pid=1


"Resistindo"*... Ah, esse disco... Sobre o aparador da sala de estar, deu tantas voltas em minha vitrola... Sofás, poltronas, lustres, portas e janelas... piano, violão e eu, só eu. Por vontade própria, era essa a plateia... O disco era meu, o Quarteto em Cy era meu... Qualquer movimento, qualquer interferência externa incomodava os passeios que, da minha sala eu fazia... pela Bahia, pelos barracos espetados na beira de barrancos, por Atenas... acompanhando o trajeto dos boias frias que via sair para o trabalho em carrocerias de caminhões, rumo ao rancho... das goiabadas... Quieto, ouvindo meninos dormir... que Deus lhes ensine a lição, dos que sofrem violência e perseguição... morreu Filipe dos Santos, mandaram esquartejar: outros porém nascerão... Resistindo, poetando em Capricho e Memória... "Amar o perdido, deixa 'comovido o meu' coração..." Canta Cyva, canta Cynara, canta Dorinha, canta Sônia... canta meu querido Quarteto em Cy: canta mais!

Quarteto em Cy - "Rancho da Goiabada" (Aldir Blanc/João Bosco)
https://www.youtube.com/watch?v=pJUpkw1DPiU

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*"Resistindo" - Resistindo - ao vivo" é um álbum do grupo musical Quarteto em Cy, (1977, Phonogram/Philips). Nesse disco foram gravadas as seguintes músicas: Eu vim da Bahia/Filhos de Gandhi; Viola violar; Capricho/Memória; Samambaias; favela/Arquitetura de pobre/O ronco da cuída; Resistindo; O Rancho da Goiabada; Dorme, meu menino dorme; Funeral de um lavrador; Mulheres de Atenas; Canta, canta mais.