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quinta-feira, 20 de julho de 2023

OS AMIGOS E O QUINTAL

 

     No quintal, debaixo de uma mangueira, nos posicionávamos. À nossa frente, o fotógrafo. Comemorávamos os aniversários. Meninos e meninas de um tempo que já vai longe. Amigos. Todos transbordando os anseios de uma vida inteira. O que foi feito dos sonhos de cada um? Constituímos nossas famílias, procuramos outros horizontes, partimos para lugares distantes, acertamos e erramos...: o que importa é que deixamos no quintal muito do que fomos naquele dia, naquela hora...

 ("A comemoração de um aniversário meu" - fonte: arq. pessoal)


 ("A comemoração de um aniversário da minha irmã" - fonte: arq. pessoal)


     Hoje, no quintal, já não há mais a mesma mangueira... 

 ("O quintal" - fonte: arq. pessoal)


     Mas há um mamoeiro, uma bananeira, uma mexeriqueira e muitas plantas.

 ("As plantas no quintal" - vista parcial - fonte: arq. pessoal)


     Nas tardes de sol há maritacas e pardais. Ao fundo, além do muro, um cipreste enorme aponta para o alto, como que a indicar o futuro. O quintal guarda a memória dos bons amigos que um dia fomos... e que sempre haveremos de ser.


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
("Amigos para siempre" - friends for life - Andrew Lloyd Webber / Don Black - composta para as Olimpíadas de Barcelona, 1992)
https://www.youtube.com/watch?v=AgWCxYSFC4k&list=RDAgWCxYSFC4k&start_radio=1

(Postagem de 07/11/2012) 

sábado, 15 de julho de 2023

SORRISOS EM ABBEY ROAD


     O Jornal “Folha de São Paulo” de sexta-feira, dia 13, no Caderno “Ilustrada”, trouxe um artigo que atraiu minha atenção. O texto é de Silas Marti, e a manchete é “Obras do Acaso”. A foto que ilustra o texto mostra uma porção de gente bocejando no mesmo lugar, nas mesmas condições de luz e tempo. São, conforme explica Silas, fotos tiradas em momentos diferentes, que mostram coincidências banais em situações também banais. Mostram, enfim, na rua, um pouquinho do comportamento humano.
     O texto fez-me lembrar de um fotógrafo nova-iorquino com quem não troquei mais do que meia dúzia de palavras.
     Em visita a Londres no ano passado, fui conhecer a Abbey Road: famosa rua que ilustra a capa de um dos discos dos Beatles, e que os mostra na faixa de segurança de pedestres atravessando de uma calçada para a outra.



(clique na seta para ouvir)

("Golden Slumbers", Paul McCartney)

     Lá chegando, após um curto trajeto de metrô e uma pequena caminhada, o que vi foi uma rua simples, como tantas outras daquela cidade. Simples porém movimentada na faixa de segurança. Repleta de pessoas sorridentes e emocionadas que cruzavam uma, duas, três vezes a rua, iam e vinham na mesma faixa onde John, Ringo, Paul e George foram fotografados para a eternidade.
     Mas o que havia de comum ali, além da admiração por aquela banda inglesa? Estava "na cara", literalmente na cara: os sorrisos das pessoas!
     Aproveitando a tendência dos fotógrafos, conforme o artigo que mencionei, o fotógrafo nova-iorquino me disse que ficava ali dias inteiros, observando e fotografando o sorriso das pessoas que cruzavam a rua.
 
(Faixa de segurança de pedestre em frente aos Estúdios Abbey Road - detalhe: o fotógrafo encostado no poste - arq. pessoal) 

     Ele estava, pelo seu trabalho, testemunhando o nosso tempo, o nosso comportamento... E disse-me também que havia fotografado o meu sorriso, que esperava que eu não me incomodasse com isso...

(Atravessando a Abbey Road - arq. pessoal)
     Eu, claro, ao compreender o que o fotógrafo fazia ali, perguntei a ele - em tom de brincadeira - se eu tinha alguma chance de aparecer em algum trabalho seu junto com uma porção de outros sorrisos desconhecidos e originários de outras partes do mundo...
     Ao me responder ele também sorriu e me disse que a tarefa de escolher sorrisos seria muito difícil; que passavam por ali sorrisos brilhantes, sorrisos sexagenários, sorrisos adolescentes, sorrisos asiáticos... “Mas”, disse-me ele, “você tem alguma chance...”
(Atravessando Abbey Road - arq. pessoal)
     Depois de comentar o assunto com a minha mulher, hoje, no café da manhã, fiquei me perguntando:
     - “Será que meu sorriso está dependurado em alguma parede de Nova Iorque ou Londres? Será que está encartado em alguma revista, em uma foto junto com uma porção de gente que cruzou a Abbey Road? Ou será que simplesmente foi deletado da máquina do fotógrafo?”
     Sei lá... o que sei é que foi muito emocionante cruzar aquela rua, naquela faixa, naquele dia...
Obs.: comprei numa lojinha temática (só Beatles) ali por perto alguns marcadores de livro, decalques e pequenos souvenirs para os meus amigos... mas ainda estou esperando um encontro musical com eles para poder comentar o assunto... e presenteá-los.
RP, 15jul2012

quinta-feira, 13 de julho de 2023

A CAIXINHA DE SOM

 

(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Yes - "Soon", 1975)

     Outro dia ganhei uma caixinha de som para ouvir as músicas dos meus pen-drives. Adorei o presente. Gostei tanto que, estando em casa, por uma alça, eu a carrego por todos os cômodos.

     Domingo passado, na sala, com a caixinha de som pendurada em minha mão, ouvindo "Soon" e preso a questões metafísicas, o meu filho ficou olhando para ela e para mim, como que tentando decifrar o que estava se passando - tanto comigo quanto com o que saia de dentro dela - daquela caixinha

     Naquele momento o que me veio à mente foi a capa do disco "Every good boy deserves favour" (1971), do grupo inglês "The Moody Blues". Nela um ancião segura por um cordão, ao que parece, um pirilampo, ao mesmo tempo em que um garoto tenta entender a origem e o sentido da luz que ele emite.

     Foi então que compreendi que a caixinha de som não é somente um aparelho que tem a propriedade de "tocar" pen-drives; mas é, especialmente, um tesouro capaz de executar maravilhas que iluminam o meu espírito e que fazem brilhar os meus olhos. Ela é, na verdade, a fonte de energia do meu pirilampo. E, quando olho para ela, estou certo de que o menino sou eu.

Foto alba: Every Good Boy Deserves Favour - Moody Blues, The 
(Capa do disco: FONTE - http://www.musicer.net/karaoke-texty-pisni/moody-blues-the/album-55134-every-good-boy-deserves-favour)

 

quarta-feira, 5 de julho de 2023

"O QUE É DO GOSTO, REGALO DA VIDA"

 

Renato Teixeira, dele, "As coisas que eu gosto" - do disco "Paisagem" (1973)
https://www.youtube.com/watch?v=uFDdebTbemU

    No meio da tarde de ontem entrei em uma loja de conveniências de um posto de gasolina. Não queria comprar nada; só queria ficar ali por alguns minutos, à toa. Mas... peguei um suco de laranja na geladeira e, no balcão, um pão de queijo que, cheirando à aconchego, havia acabado de sair do forno. Em seguida fui me sentar à uma das mesas da loja, de onde, enquanto comia, olhava pela janela de vidro o movimento dos automóveis lá fora, ao lado das bombas de gasolina, e a entrada e saída de clientes na loja.

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/degusta/receitas/pao-de-queijo-mineiro,61750a25002291f457b3d451709f023f0fx6b0rx.html

    Ao terminar o meu lanche percebi que havia apenas uma moça atendendo ao caixa, e que o número de pessoas que procuravam efetuar o pagamento de suas compras estava aumentando. Como a espera para pagar poderia ser longa, levantei-me e posicionei-me na fila, e fiquei no aguardo de minha vez para ser atendido.

    À minha frente havia quatro pessoas: um senhor que usava um óculos de lentes grossas, uma adolescente japonesinha, uma senhora bem alta, e logo à minha frente um senhor de uns 60 anos, que levava sob o braço um pacote contendo latinhas de cerveja. Assim que me postei na fila o telefone celular deste senhor à minha frente soou, e ele passou a emitir sons ininteligíveis que deveriam ser palavras direcionadas à pessoa que o havia chamado. Ao final da ligação dirigiu-se a mim e queixou-se:

    - Minha mulher não larga do meu pé! Ela agora passou a implicar com o meu prazer de tomar uma de cerveja antes do jantar.

    - Puxa vida, disse-lhe eu, mas de vez em quando uma cervejinha antes do jantar não faz mal a ninguém. É até romântico, cria uma boa cumplicidade - completei. Ela não toma uma com você? Já a convidou?

    Posando de malandro, ele passou a me explicar que não se tratava apenas de uma cerveja; mas que a mania dele era de tomar exatamente sete, na semana.

    - Bom, disse-lhe eu, sete na semana significa uma por dia... Está tudo de bom tamanho. Não há exagero nisso.

    Para que eu entendesse melhor a situação, ele me disse que costumava tomar sete latinhas de cerveja em uma sentada só: e pelo menos em três dias na semana!

    Sem saber o que dizer, comentei que aí a dificuldade de se ter a companhia e a cumplicidade da mulher já ficava mais difícil; que podemos exagerar de vez em quando, que Deus compreende e perdoa, mas que é bom que pelo menos tentemos ser moderados.

    Com ares de esperto, ou apenas para alongar a conversa, ele me contou que havia ido a uma médica e que ela havia lhe dito, metaforicamente, que as muitas notas promissórias que ele havia emitido estavam começando a chegar. E arrematou:

    - Veja só, eu estou com quase 60 anos... e preciso ser feliz!

    Dito isso ele foi chamado ao caixa, pagou pela sua compra, olhou para mim e, despedindo-se, arrematou dizendo:

    - "O que é do gosto, regalo da vida!"

    Chegada a minha vez, fui chamado ao caixa. Mas... antes... pensei rapidamente sobre a breve conversa que havia tido com aquele senhor e, num impulso, cedi ao rapaz que me seguia na fila a vez de ser atendido. Com passos decididos dirigi-me novamente ao balcão da padaria, onde pedi mais uma dúzia de pães de queijo: um para eu comer enquanto aguardava novamente minha vez na fila do caixa, e os outros onze para serem colocados num saquinho e levados para casa... E nem me importei mais com o tamanho da fila ou com o que, de início, poderia me parecer um exagero.