D.Pedro I em detalhe de "Independência ou Morte", 1888, de Pedro Américo
Recentemente reli a biografia do D. Pedro I escrita pela historiadora Isabel Lustosa(1). Dessa leitura fui construindo, sem querer, uma relação livre e despretensiosa do seu perfil psicológico com os reflexos dele produzidos no perfil geral do brasileiro.
D. Pedro I foi um menino solto; foi um jovem independente e boêmio que se dedicava mais às atividades físicas que aos estudos. Preferia a vida sem as formalidades da corte. Tornou-se um imperador impulsivo e contraditório.
D. Pedro I foi um menino solto; foi um jovem independente e boêmio que se dedicava mais às atividades físicas que aos estudos. Preferia a vida sem as formalidades da corte. Tornou-se um imperador impulsivo e contraditório.
Quando penso nele, a imagem que me vem é a de alguém que “não levava desaforo para casa”. Fico imaginando o imperador menino, solto no paço, inquieto, fugindo do palácio para brincar com os meninos do porto. Pelo que consta na literatura, D. Pedro I não "dava bola" para diferenças raciais nem tampouco para uma suposta inferioridade do negro – tanto que era contrário à escravidão. A esse respeito, inclusive, declarou: “Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros”(2).
Imagino-o já adulto, às margens do Ipiranga, recebendo da Dna. Leopoldina uma mensagem na qual pede providências pelo Brasil: “o pomo está maduro; colha-o já, senão apodrece” – dizia a mensagem.
Ao mesmo tempo, e não sei por quê, relaciono D. Pedro I com o Kid Morengueira - personagem de letra de música criado sob inspiração nos caubóis norte-americanos. Apesar de fictício, parece que tem o mesmo perfil heroico, destemido e “doidão” do brasileiro existente em D. Pedro I.
(CLIQUE NA SETA PARA ASSISTIR ANTES DE LER)
(Moreira da Silva - "O rei do gatilho", 1962)
O REI DO GATILHO
(Michael Gustav)
'' O rei do gatilho, super bang-bang de Michael Gustav, com Kid Morangueira, o mais famoso pistoleiro de Wichitta.
Temido pelos bandidos, pois só atirava em nome da lei.
O rei do Gatilho.''
Começa o filme com o garoto me entregando
um telegrama do Arizona, onde um bandido de lascar
um bandoleiro transviado que era o bamba lá da zona
e não deixava nem defunto descansar.
Dizia urgente que eu seguisse em seu socorro.
a diligencia do oeste neste dia ia levar
vinte mil dólares do rancho Águia de Prata
onde a mocinha costumava me encontrar
''Venha urgente, pois estou morta de medo. Só tu poderás salvar-nos.
Beijos da tua Mary.''
Botei na cinta dois revólveres que atiram
sem que eu precise nem ao menos me coçar
assobiei para um cavalo que passava do outro lado
e com o bandido mascarado fui lutar.
Meti o peito, nem dei bola prô xerife
passei direto do saloon, fui me encostando no balcão
com o chapéu em cima dos olhos nem dei conta
de que o bandido me esparava a traição
"-Cuidado Moreira-''
Era um índio meu amigo que sabia
das intenções do bandoleiro contra mim
e advertia seu amigo do perigo que corria
devo-lhe a vida, mas isso não fica assim.
A essa altura o cabaret em polvorosa
já tinha um cheiro de cadáver se espalhando
houve um suspense de matar o Hitchicock
e em close-up prô bandido fui chegando.
Parou o show e as bailarinas desmaiaram
fugiram todos só ficando ele e eu
ele atirou, eu atirei e nós trocamos tantos tiros
que até hoje ninguém sabe quem morreu.
Eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu.
Só sei dizer que a mulher dele hoje é viúva
que eu nunca fui de dar refresco ao inimigo
como no filme bang-bang, bang-bang vale tudo
o casamento da viúva foi comigo.
Tem um final, mas o final é meio impróprio e eu não digo.
Volte na próxima semana se quiser ser meu amigo
Eu de cowboy fico gaiato, mas não fujo do perigo
Temido pelos bandidos, pois só atirava em nome da lei.
O rei do Gatilho.''
Começa o filme com o garoto me entregando
um telegrama do Arizona, onde um bandido de lascar
um bandoleiro transviado que era o bamba lá da zona
e não deixava nem defunto descansar.
Dizia urgente que eu seguisse em seu socorro.
a diligencia do oeste neste dia ia levar
vinte mil dólares do rancho Águia de Prata
onde a mocinha costumava me encontrar
''Venha urgente, pois estou morta de medo. Só tu poderás salvar-nos.
Beijos da tua Mary.''
Botei na cinta dois revólveres que atiram
sem que eu precise nem ao menos me coçar
assobiei para um cavalo que passava do outro lado
e com o bandido mascarado fui lutar.
Meti o peito, nem dei bola prô xerife
passei direto do saloon, fui me encostando no balcão
com o chapéu em cima dos olhos nem dei conta
de que o bandido me esparava a traição
"-Cuidado Moreira-''
Era um índio meu amigo que sabia
das intenções do bandoleiro contra mim
e advertia seu amigo do perigo que corria
devo-lhe a vida, mas isso não fica assim.
A essa altura o cabaret em polvorosa
já tinha um cheiro de cadáver se espalhando
houve um suspense de matar o Hitchicock
e em close-up prô bandido fui chegando.
Parou o show e as bailarinas desmaiaram
fugiram todos só ficando ele e eu
ele atirou, eu atirei e nós trocamos tantos tiros
que até hoje ninguém sabe quem morreu.
Eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu.
Só sei dizer que a mulher dele hoje é viúva
que eu nunca fui de dar refresco ao inimigo
como no filme bang-bang, bang-bang vale tudo
o casamento da viúva foi comigo.
Tem um final, mas o final é meio impróprio e eu não digo.
Volte na próxima semana se quiser ser meu amigo
Eu de cowboy fico gaiato, mas não fujo do perigo
O Kid Morengueira, em “O Rei do Gatilho”(3), ao receber um telegrama de uma frágil mocinha que lhe pedia socorro, “pegou” um cavalo que passava e foi ligeiro proteger uma diligência que transportaria uma grande soma em dinheiro. E, claro, foi também salvar a “mocinha”.
Ao receberem uma notícia de consequências danosas, ambos deixaram fluir a impetuosidade do brasileiro, e, numa explosão de heroísmo, D. Pedro I e Kid Morengueira tomaram providências imediatas. D. Pedro I sacou a espada e bradou pela Independência do Brasil; Kid Morengueira “botou no cinto dois revólveres”, matou um bandido em duelo, salvou o dinheiro, e ainda se casou com a viúva.
Ao receberem uma notícia de consequências danosas, ambos deixaram fluir a impetuosidade do brasileiro, e, numa explosão de heroísmo, D. Pedro I e Kid Morengueira tomaram providências imediatas. D. Pedro I sacou a espada e bradou pela Independência do Brasil; Kid Morengueira “botou no cinto dois revólveres”, matou um bandido em duelo, salvou o dinheiro, e ainda se casou com a viúva.
D. Pedro I era popular e querido aqui no Brasil. Tanto que, quando foi pressionado para voltar para Portugal, mandou avisar que daqui não sairia(4).
D.Pedro I em desfile de 7 de setembro com minhas amigas Marisas -postagem Eliane de Andrade no facebook
O Kid Morengueira, mesmo com seu jeitão do caubói John Wayne(5) no personagem traçado no samba-de-breque, era também querido e admirado, tanto pela frágil mocinha quanto pelo seu amigo e parceiro – um índio.
John Wayne - fonte: http://www.allposters.com/-sp/Rio-Bravo-John-Wayne-1959-Posters_i9339038_.htm
Tanto o D. Pedro I quanto o Kid Morengueira, um real outro fictício, com algumas similaridades e dessemelhanças, nas minhas fantasias traduzem bem o jeitão cordial do brasileiro – além de ilustrarem os valores e respeito que devem imperar nas relações entre todas as raças aqui no Brasil: D. Pedro I não acreditava na inferioridade do negro; Kid Morengueira era amigo de índio. São, por isso, perfis que representam a identidade do povo brasileiro.
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(1) LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
(2) LUSTOSA, Isabel, obra citada, p. 129
(3) "O Rei do Gatilho" - samba-de-breque de Michael Gustav, interpretado por Moreira da Silva
(4) Em 09/jan/1922 (dia do Fico) D. Pedro I disse: “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”
(3) "O Rei do Gatilho" - samba-de-breque de Michael Gustav, interpretado por Moreira da Silva
(4) Em 09/jan/1922 (dia do Fico) D. Pedro I disse: “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!”
(5) John Wayne, nome artístico de Marion Robert Morrison, ator norteamericano (1907 – 1979)
Crônica bem humorada e ao sabor de curiosidade. Beleza Elias. A comparação é graciosa e inteligente. Parabéns, amigo. abs.
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