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sábado, 12 de setembro de 2020

DOIDINHO VOLTA AO ENGENHO

 

"Doidinho" (1933) -capa- José Lins do Rego - Ed. Nova Fronteira - 27ª ed., 1984

     Hoje é sábado, quatro horas da tarde, e estou em casa. Acabei de ler, mais uma vez, "Doidinho".


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Jacob do Bandolim - "Ingênuo"
https://www.youtube.coom/watch?v=IWk44WN3cIg

     "Doidinho" é o segundo livro do ciclo da cana de açúcar, de José Lins do Rego. Nesse livro, o menino Carlinhos deixa o engenho de seu avô, onde morava - o Santa Rosa -, para estudar em um internato em Itabaiana, PB.

     Em trinta e seis capítulos Zé Lins mostra o sofrimento, as angústias e o consequente amadurecimento de Carlinhos no convívio com os demais alunos do Colégio. Lá, entre os meninos,  ele é apenas mais um - e não o neto do Coronel Zé Paulinho, o senhor do engenho. No internato Carlinhos aprende a conviver com a repreensão, o castigo e a injustiça. Aprende também o sentido da solidariedade e do amor. Tem ideias de morte e de vingança. Sente tanta saudade do engenho do avô a ponto de fugir do colégio, tomar um trem e voltar para lá. No entanto, ao descer do trem, por não saber como sua fuga seria recebida no engenho, ficou receoso de chegar à casa-grande.

     Exatamente no momento em que terminei a leitura do livro senti no ar um cheiro de bolo. E como a leitura fez com que eu me desprendesse da sala onde eu me encontrava, pensei que aquele cheiro fosse fruto da minha imaginação; que minha imaginação havia me levado para um antigo engenho da época do império, mais precisamente para a cozinha de sua casa-grande, onde mãos de afeto faziam de um bolo um pedaço do coração, para ser servido com carinho em um café da tarde.

     Sentindo-me o próprio Carlinhos, desci do trem que me trouxera de volta ao Engenho Santa Rosa e fechei o meu livro. Cruzei a mata constituída pelos cômodos de minha casa, e fui até a cozinha. Lá encontrei minha companheira sorridente e orgulhosa, mostrando-me o bolo de cenoura com cobertura de chocolate, recém saído do forno, que ela havia feito para me agradar - e que já estava sobre a mesa para o nosso café da tarde.

Bolo de cenoura com chocolate - e café - Foto: arq. pessoal


     Pensei: "Será que o Carlinhos vai ser tão bem recebido, na casa-grande, quanto eu fui ao chegar na cozinha?"

     Não sei. Talvez "Banguê"* possa responder.



Uma das ilustrações em "Banguê" (Ed. José Olympio, 13ª ed., 1982)

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*"Banguê" (1934) - José Lins do Rego - 3º livro do ciclo da cana de acúcar



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