Seguidores

sábado, 10 de outubro de 2020

ROBERTO GOYENECHE - "EL POLACO"

 

(Fonte: http://club.doctissimo.fr/volver4/tango-peinture-151705/photo/willem-haenraets-tango-5103056.html)


"La vida és un tango"*


     Para que eu aprendesse a gostar de tango foi necessário tempo. Tempo de vida. Anos. Não, não pense você, meu caro amigo, que eu o considerava um gênero ruim: ultrapassado, talvez. É que minha sensibilidade não estava desenvolvida o suficiente para ouvir atentamente o som do bandoneón, ou para entender as verdades contidas nas letras passionais, trágicas e sofridas que são próprias do tango - e que traduzem muito da realidade de nossa existência. Na verdade, até há pouco eu não estava amadurecido para poder compreender o quanto o tango é atual e próprio da natureza humana.


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR)
(Roberto Goyeneche - "El último café", de Julio Sosa)

 

     No entanto isso ainda não bastou para que eu pudesse reconhecer meus amores pelo tango.

     Foi necessário também que eu descobrisse o Roberto Goyeneche - conhecido como "El Polaco" -; que eu me apaixonasse pelas suas interpretações e pelo seu jeito de sutilmente pronunciar inclusive os pontos e as vírgulas daquilo que canta (inclusive reconhecido na letra de "Garganta con Arena"**). Quando ele solta a voz e diz o tango, expondo-se por inteiro, ele consegue fazer a fusão da fantasia com a realidade. E percebo que eu também me sinto assim, de alma exposta entre realidade e ficção quando o ouço cantar. Por isso acredito que o tango seja, de fato, uma das linguagens da alma!

     Ao interpretar um tango o Goyeneche escancara a autenticidade das paixões que aprisionamos em algum dos nossos próprios labirintos.

( Capa da biografia de Goyeneche - fonte: http://www.anobii.com/books/El_Polaco,_la_vida_de_Roberto_Goyeneche/01583de33cb0cf8b39)

     Se gosto da maneira que o Goyeneche canta e representa, é porque posso ir além da convencionalidade de gestos, de palavras geometricamente ditas e de sorrisos exatos nos momentos oportunos. Se gosto das interpretações do Goyeneche, é porque aprendi que posso me deixar ser naturalmente passional em relação às pessoas e às coisas de que gosto... Ou, do contrário, a racionalidade excessiva, desprovida de um mínimo de paixão, pode acabar me matando.


El Último Café (Julio Sosa)

Llega tu recuerdo en torbellino,
Vuelve en el otoño a atardecer
Miro la garúa, y mientras miro,
Gira la cuchara de café.

Del último café
Que tus labios con frío,
Pidieron esa vez
Con la voz de un suspiro.

Recuerdo tu desdén,
Te evoco sin razón,
Te escucho sin que estés.
"Lo nuestro terminó",
Dijiste en un adiós
De azúcar y de hiel...

¡Lo mismo que el café,
Que el amor, que el olvido!
Que el vértigo final
De un rencor sin porqué...

Y allí, con tu impiedad,
Me vi morir de pie,
Medí tu vanidad
Y entonces comprendí mi soledad
Sin para qué...

Llovía y te ofrecí, ¡el último café
O Último Café

Suas lembranças chegam a mim feito um turbilhão,
E me levam para o outono a entardecer
Olho a garoa, e enquanto isso,
Mexe a colher de café.

O último café
Que seus lábios com frio
Pediram daquela vez
Com a voz de um suspiro.

Lembro-me de seu desdém,
Te evoco sem razão,
E te ouço sem que você esteja.
"O nosso terminou"
Disseste em um adeus
De açúcar e de fel ...

Assim como o café,
Que o amor, que o esquecimento!
Que a loucura final
De um rancor sem porquê ...

E ali, com sua impiedade,
Me vi morrer de pé,
Medi sua vaidade
E então eu compreendi minha solidão
Sem para quê ...

Chovia e eu te ofereci o último café!

_______________________________________ 
*"La vida és un tango" (Argentina, 1939) - filme dirigido por Manuel Romero

**"Garganta con arena" - tango de Cacho Castaña composto em homenagem a Roberto Goyeneche

Nenhum comentário:

Postar um comentário