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sábado, 4 de abril de 2020

O TRABALHO DOMÉSTICO EM TEMPOS DE ISOLAMENTO FORÇADO


Foto: arq. pessoal

     Desde que o coronavírus nos forçou ao isolamento, eu e minha mulher percebemos que nós mesmos teríamos que cuidar de nossas roupas, preparar nossas refeições e fazer a limpeza de casa.


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Luiz Melodia, dele, "Juventude transviada"
Fonte: youtube

Mas para podermos nos adaptar ao home office e passar nossos dias sem ajuda externa, orientamos a Neli a ficar em sua casa. Com isso, deixando de utilizar o transporte público por um tempo, ela estaria evitando aglomerações, estaria cuidando de sua própria saúde, da saúde de seus familiares e da nossa saúde - pelo menos até poder vir ao trabalho e retornar à sua casa com tranquilidade.

     Mas hoje, sábado, próximo da data de seu pagamento mensal, combinamos por telefone que ela poderia vir até aqui, de carona com alguém ou "de uber", para receber o seu pagamento. E assim foi feito.

     No início da tarde, conforme combinado, de máscaras no rosto, eu e minha mulher atendemos ao toque da campainha e recebemos a Neli pela porta da cozinha.

     Ela, sem ter tomado o mesmo cuidado, assustada e aflita por nos ver de máscaras, contou-nos de toda a sua nova rotina nesses últimos quinze dias de isolamento. Da porta da cozinha, percebi que ela dirigiu seu olhar para a área de serviços e observou os varais cheios de roupas penduradas. Observou, também, sobre a pia da cozinha, muitos talheres, travessas, panelas e pratos lavados. Ao perceber que as tarefas que competem a ela pareciam estar sendo feitas por nós, manifestou seu receio em deixar de nos ser útil.

     Pobre Neli; pobres de nós... 

     Depois de lhe termos entregue o seu salário, agradecemos a ela pelo seu trabalho e a tranquilizamos em relação às suas preocupações:

     - Neli, não se preocupe. Estamos exaustos mas estamos bem. Volte para a sua casa e mantenha-se em isolamento social. Não vemos a hora de você poder retornar. Queremos você aqui, todos os dias, cuidando da casa e cuidando da gente.

     Ao ouvir nossa fala cansada e abafada por máscaras, recebemos dela um sorriso aberto e um agradecimento, próprio de quem, de repente, compreende a essencialidade do que faz:

     - "Eu gosto de trabalhar aqui com vocês" - disse-nos ela; "eu só não sabia que era tanto assim. Não aguento mais a quantidade de serviço que tenho que fazer lá em casa. Já deu, esse vírus, né?

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