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Aldir Blanc - "Resposta ao tempo" (Aldir Blanc/Ronaldo Bastos)
"Ele
aprisiona, eu liberto;
(...) ele
adormece as paixões, eu desperto"
(em
"Resposta ao Tempo")
O homem amadurecido é chamado a dialogar;
é preciso tocar em questões difíceis e inevitáveis. Difíceis porque requerem
introspecção, envolvem idas e vindas, perdas e ganhos, risos e dores;
inevitáveis porque são próprias do amadurecimento.
O homem amadurecido ouve o interlocutor
chamá-lo com austeridade.
O interlocutor e o homem amadurecido se
sentam, calados.
Aldir Blanc (1946-2020)
O interlocutor acha graça do silêncio e do
jeito sem-jeito do homem amadurecido. O interlocutor nada diz, porém ri e zomba
dos sofrimentos, angústias e choros experimentados pelo homem amadurecido.
Para o interlocutor o esquecimento é
fácil, as coisas passam, são apagadas. Mas o homem amadurecido não esquece. A
capacidade de não esquecer é, ao mesmo tempo, uma vantagem e uma dor para o
homem amadurecido. Diferente das possibilidades do interlocutor, o homem
amadurecido pode reviver. Reviver e
sentir. E, sentindo, está sujeito a rir ou chorar.
O interlocutor cuida de mostrar as folhas
de outono contidas no coração do homem amadurecido, e que ditam sua finitude...
O homem amadurecido relembra amores
perdidos. O interlocutor sorri; ele ri dos abandonos sofridos pelo homem
amadurecido. O interlocutor sabe passar, esquecer... O homem amadurecido
guarda, revê, não consegue, definitivamente, fazer passar, esquecer...
O interlocutor, incapaz de rever, tem a
capacidade de fazer cicatrizar, aprisionar e fazer adormecer a chama da vida; o
homem amadurecido, diferente do interlocutor, pode libertar, revisitar,
reacender velhas paixões...
No interlocutor, então, que passa sem
sentir, é despertada a vontade de poder amar para também poder reviver... Mas o
interlocutor não consegue passar pelas diversas fases pelas quais passou o
homem amadurecido. O interlocutor, por ser infinito - e justamente por isso - é
uma eterna criança e, como tal, desprovida do privilégio de poder amadurecer...
e sentir.
RESPOSTA
AO TEMPO
(Aldir
Blanc/Ronaldo Bastos)
Batidas
na porta da frente, é o tempo
Eu
bebo um pouquinho prá ter argumento
Mas
fico sem jeito, calado, ele ri
Ele
zomba do quanto eu chorei
Porque
sabe passar, e eu não sei
Num
dia azul de verão sinto o vento
Há
folhas no meu coração, é o tempo.
Recordo
um amor que perdi, ele ri
Diz
que somos iguais, se eu notei
Pois
não sabe ficar, e eu também não sei
E
gira em volta de mim
Sussurra
que apaga os caminhos
Que
amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo
que ele aprisiona, eu liberto
Que
ele adormece as paixões, eu desperto
E
o tempo se rói com inveja de mim
Me
vigia querendo aprender
Como
eu morro de amor prá tentar reviver
No
fundo é uma eterna criança
Que
não soube amadurecer
Eu
posso, ele não vai poder
Me
esquecer
8 de junho de
2016
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*leitura que
faço da música "Resposta ao Tempo", de Aldir Blanc e Ronaldo Bastos
Nenhum comentário deste homem "amadurecido".
ResponderExcluir... o que, na realidade, já é um comentário. Abraço, Salviano.
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