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quinta-feira, 18 de junho de 2020

MÁRIO QUINTANA: O QUARTO DO POETA


("A Casa de Cultura Mario Quintana" - fonte: pt.wikipedia.org)


     Saí uma tarde pelas ruas de Porto Alegre e fui conhecer "a casa" do poeta Mário Quintana.


(CLIQUE NA SETA PARA OUVIR ENQUANTO LÊ)
(Baden Powell - "Rosa", de Pixinguinha e Otávio Souza)


     Solitário, não se casou, não teve filhos. Viveu grande parte da vida em hotéis. Um deles - o Majestic - tornou-se patrimônio histórico. Adaptado, transformou-se no "Centro Cultural Mario Quintana". Ali, no quarto 217, o poeta viveu de 1968 a 1980.

     O prédio do Hotel Majestic, com passarelas suspensas sobre a via pública, foi considerado muito ousado para a cidade quando sua construção foi concluída nos anos 30. É muito interessante chegar ali: a sensação que me veio foi de estar entrando em uma grande galeria a ceu aberto, margeado por uma construção povoada por políticos e artistas que em outros tempos ali se hospedaram: Getúlio Vargas, João Goulart, Vicente Celestino... 

  
Lígia e eu - entrada do Centro Cultural MQ - Foto: arq. pessoal


     Logo no hall de entrada há uma miniatura do poeta com um convite talhado em pedra: 

     "Olá, sejam bem-vindos. Visitem meu quarto no 2º andar de minha casa" - diz o convite.

(Hall de entrada, Casa de Cultura MQ, convite para visitá-lo - foto: arq. pessoal)


     Subi pelo elevador e fui ao 217. De uma antessala, por uma parede de vidro que o protege, passei os olhos pelo quarto: um pequeno cômodo escuro mobiliado com cama de solteiro, poltrona, abajures e escrivaninha. Pelas paredes e sobre os móveis estão alguns posteres, livros e uma máquina de escrever. Tudo muito simples, tudo muito rico em afetividade... Senti vontade de entrar, de me sentar na poltrona, deslizar a mão sobre os objetos, ficar quieto, ficar olhando, pensando...

 ("O quarto 217 do Majestic: o quarto do poeta" - foto: arq. pessoal)


     "Não precisamos de muita coisa", disse-me em mensagem o quarto.

     Contam (1) que, uma vez, o poeta assim se expressou a respeito de sua moradia:

     "Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas".

     Saí dali em silêncio, remontando frases do quarto descrito pelo próprio poeta em um dos seus livros (2):

"Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...

que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto, 
o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim..."

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(1)  assisbrasil.org/joao/quintana.htm
(2) "Este quarto", do livro de poemas "Apontamentos de História Sobrenatural" (1976)

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